quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Da Torreira para o Mundo

Artigo de opinião de Richard Warrell, Comissário Político e Vogal do Conselho Local de Oeiras do PAN

02 de Setembro de 2012, Torreira, Murtosa. O cavaleiro Marcelo Mendes avança com o seu cavalo para cima de um grupo de pessoas que se manifestavam pacificamente contra a realização de uma tourada.
30 de Agosto de 2012, Campo Pequeno, Lisboa. Nuno Carvalho, 26 anos, forcado, foi colhido quando tentava a pega do quinto toiro da corrida. Ficou paraplégico.
29 de Abril de 2012, Sevilha. O cavalo Xelim, do cavaleiro Rui Fernandes, morreu na arena em sequência de uma cornada.
A lista podia continuar enumerando inúmeras vítimas da violência gerada pelas touradas, sem sequer ser necessário falar nos óbvios touros, aos 6 em cada corrida.
Os recentes acontecimentos na Torreira deram muito que falar e ainda hoje continuam a fazê-lo. O impacto daquelas imagens, captadas pela Ribeirinhas TV e que tiveram ampla cobertura mediática (SIC, RTP, Público, Diário Digital e muitos outros fizeram notícia do caso) voltam a colocar no radar da sociedade em geral uma vasta e muito complexa questão que preocupa uma cada vez maior faixa de pessoas: os direitos dos animais. O próprio facto da Com. Social pegar neste tema é bem demonstrativo da maior consciencialização e da importância crescente que os direitos dos animais têm vindo a conhecer no mundo em geral, não estando limitada a grupos circunscritos de pessoas. Não são só os “veganos” nem os “radicais de esquerda” nem os “animalistas” nem os “hippies” nem o “pessoal da PETA” nem os apologistas da “A.L.F.” nem os “drogados de esquerda” que se preocupam com o sofrimento alheio e que lutam para acabar com ele, como alguns grupos tentam fazer crer.

Basta olhar à nossa volta. São vários os sectores e as actividades onde cada vez mais se nota uma preocupação com o bem-estar dos animais.
Na alimentação, multiplicam-se os restaurantes e as opções vegetarianas. Em mais de 30 países, uma campanha chamada “2.ªs Sem Carne” promove um dia por semana sem comer animais. Já existe em Portugal (www.2semcarne.pt). Ainda hoje uma notícia dava conta de que o McDonalds se prepara para abrir restaurantes vegetarianos na Índia. São cada vez mais as celebridades e figuras públicas que se assumem vegetarianos/veganos. Há cerca de 1 ano, o ex-presidente norte-americano Bill Clinton afirmou que estava a seguir uma “dieta vegana”. Embora motivado por motivos de saúde, não deixa de ser bom para os animais, por todas as razões.
Na moda, muitos têm sido os costureiros que se têm assumido contra o uso de peles, por exemplo. E o número de marcas veganas que produzem calçado, vestuário e acessórios sem uso de peles e com elevadas preocupações ambientais e humanas, procurando fábricas “éticas” é também cada vez maior e não faltam exemplos vindos de Hollywood a quem estas marcas assentam que nem uma luva.
Ainda no mundo do espectáculo e do entretenimento, os circos com animais foram recentemente proibidos por exemplo na Inglaterra, depois de na Áustria se ter avançado também nesse sentido. Até em Portugal se deu um passo importante em 2009, embora mais curto. Na Catalunha, entrou em vigor no dia 1 de Janeiro deste ano a lei que proíbe as touradas. A famosa praça de touros de Las Arenas de Barcelona é hoje um centro comercial gerador de milhares de postos de trabalho. Em vários países da América Latina a sociedade tem-se mobilizado e vários municípios já avançaram para a abolição. No Peru, uma praça de touros foi convertida num centro de actividades culturais e artísticas que “honram a vida”. Na capital do México, México DF, também este ano se avançou para a abolição das corridas de touros.
Na política, são já muitos os partidos que se focam no bem-estar animal: o Partij voor de Dieren (Partido pelos Animais) na Holanda, com 3 deputados; o PAN (Partido pelos Animais e pela Natureza) de Portugal, com 1 deputado no Governo Regional da Madeira; o Partido da Terra, da Galiza, Espanha; o Animals Count e o Animals Protection Party no Reino Unido; o PACMA (Partido Antitaurino Contra el Maltrato Animal) em Espanha; o Partito Animalista Italiano, de Itália e outros, na Alemanha, Suíça, Áustria, Dinamarca, Bélgica, Austrália, EUA, Canadá e mais recentemente, Turquia, mostram que o mundo está a mudar.
Mesmo ao nível da legislação se têm tomado decisões importantes que, aos poucos e poucos, vão contribuindo para minorar o sofrimentos de milhões de seres sencientes em todo o mundo. Grão a grão...
O mesmo se passa com a experimentação animal, com regras cada vez mais apertadas, com a caça, a pesca, etc., etc., etc. Um barco de caça à baleia no Japão, uma matança de golfinhos das Ilhas Faroé, ou um rei que caça elefantes em África já não passam despercebidos nesta aldeia cada vez mais global, que compassivamente se faz ouvir contra estes actos bárbaros e exerce uma pressão cada vez maior para que deixem de acontecer.
Esta tomada de consciência e todo este movimento tornam-se ainda mais importantes se pensarmos que na verdade, ao defender os animais, estamos também a protegermo-nos a nós próprios e à natureza. Calcula-se que cerca de 6 biliões de animais são usados por ano para alimentar alguns milhões de humanos. Grande parte desses animais vem da pecuária intensiva, que explora de forma insustentável solos para produzir os cereais que hão-de alimentar o gado. Ao fazê-lo, esgotamos ainda recursos como a água, o que poderá levar à escassez total de alimentos dentro de 40 anos, se até lá não adoptarmos uma dieta predominantemente vegetariana. Entretanto, em África e noutras partes do planeta, dezenas de milhões de pessoas morrem à fome ou estão sub-nutridas. Tudo está ligado. E quem julga que esta é a causa do futuro, está enganado. Esta é a causa do presente, levada a sério por pessoas que também se preocupam com o futuro.
Se é certo que ainda muita coisa está errada e continuamos a maltratar, comer, massacrar, abandonar, vestir, fazer experiências com, abater, extinguir milhões e milhões de animais por ano, seja em nome de uma tradição, de um ritual, da moda, do hábito, da necessidade ou simplesmente da ignorância, eu prefiro ver o copo meio cheio: nunca, em toda a história da humanidade, estivemos tão despertos, preocupados e conscientes para o sofrimento de outros seres que, não sendo humanos, também sofrem, também têm medo, também sentem dor e também têm direito a não ter nada disso.
Seja na Torreira, seja em qualquer lado do mundo.

Richard Warrell
Membro da Comissão Política Nacional do PAN
Vogal do PAN Oeiras

Oeiras, 04 de Setembro de 2012

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